Tuesday, April 03, 2007

Talking about the 6th LGLFF


A primeira grande constatação na 6ª edição do Festival foi a redução dos apoios não apenas nos valores atribuídos mas na postura das entidades patrocinadoras que muito prejudicou o sucesso do evento. Se até à 5ª edição o Festival assistiu a um crescimento progressivo, a 6ª foi marcada por um retrocesso proporcional aos cortes orçamentais a que foi submetido.
Apesar de se ter conseguido manter a qualidade dos filmes exibidos, a promoção do evento ficou seriamente comprometida e isso reflectiu-se naturalmente na redução do número de espectadores (uma perda de cerca de 40%). Ao longo das duas semanas em que decorreu o evento, foram muitas as mensagens recebidas por email, oriundas principalmente do resto do país, pedindo informações sobre o evento. Se em Lisboa, mesmo com uma visibilidade menor, o Festival conseguiu ser apresentado, já o resto do país foi bastante afectado.
Mas a redução no número de espectadores muito fica a dever também à falta de legendagem das sessões. Nos últimos anos o Festival orgulha-se de conseguir compor uma equipa de voluntários que traduzem a totalidade dos filmes exibidos. Este trabalho, que o Festival consegue graças ao empenho e dedicação de muitas pessoas, foi este ano dispensado por não ter sido possível contratar uma empresa de legendagem electrónica que fornecesse o material e técnicos necessários ao procedimento. Este equipamento, que aliás deveria existir em salas como a do Fórum Lisboa, foi sempre suportado pela CML, responsável pela gestão da sala. Este ano, a autarquia cortou a verba destinada à legendagem o que impediu muita gente de assistir à quase totalidade das sessões. A única excepção foram os filmes exibidos na Cinemateca, cuja sala dispõe deste equipamento, que nos foi gentilmente facultado.
O estrangulamento orçamental do evento impediu o seu normal crescimento e obrigou a sacrifícios que apesar de não comprometerem a realização do Festival, afectaram seriamente o seu sucesso.
Passo a transcrever o discurso de Encerramento do 6º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, onde revelamos as dificuldades sentidas durante o último ano e as que se adivinham no futuro, caso o desinteresse dos que supostamente nos apoiam se continue a manifestar. Muito lamentamos que tenhamos tido que escrever estas palavras, mas acreditamos que os muitos que ainda apostam e desejam a continuidade deste Festival merecem todo o esforço e dedicação. Queremos pois tornar público o nosso descontentamento, esperando sinceramente que o mesmo sensibilize as pessoas para a necessidade de alterar a situação, combatendo a indiferença e conjugando esforços no sentido de salvar o Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa que atravessa o seu momento mais difícil.
Antes de proceder ao balanço do 6ºFestival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, gostaríamos de agradecer a todas as pessoas e instituições, cujo apoio, mesmo que nalguns casos ambíguo, foi fundamental para a realização do evento.
Lamentamos porém a ausência, durante todo o evento, de um representante da CML, o nosso maior patrocinador, a quem pudéssemos agradecer pessoalmente o apoio, sempre distante, mas ainda assim necessário. Uma ausência não apenas física, mas que se reflectiu também na opção de não incluir no nosso catálogo a habitual mensagem de abertura do Presidente da CML, que, sem excepção, abriu os catálogos das 5 edições anteriores.
A distância foi aliás o maior obstáculo com que este Festival se defrontou: vivemos num país de brandos costumes onde tudo é permitido desde que seja entre 4 paredes. Vim a perceber que se em Portugal não se verificam ataques frontais a esta comunidade isso deve-se sobretudo a um medo vigente de frontalidade – é muito mais fácil pecar pelo descaso e pela indiferença, que não deixam de ser uma forma hedionda de um preconceito vil.
Atrevo-me a dizer que o desinteresse e a distância são as formas mais frequentes de disfarçar o preconceito, e porque não dizê-lo, uma homofobia latente nos valores tradicionais e no conservadorismo de muitos dos nossos governantes.
Mas o desinteresse não se fica por aqui e acaba por ser claramente visível na forma como o Festival foi tratado pelos meios de comunicação social. Com excepção de algumas rádios que se empenharam em promover o evento,a maioria dos jornais e televisões, acabaram por concluir aquilo que a CML havia iniciado, ao cancelar, pela primeira vez a divulgação do evento através dos MUPIS que sempre surgiam pela cidade na altura do Festival, ao dedicarem escassas linhas a um evento cuja dimensão merecia maior destaque.
No dia da abertura do Festival um jornalista escrevia “Para quando a edição de um Festival de Cinema de Lisboa?” num artigo dedicado ao Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. Conscientes de que os lisboetas merecem mais filmes e um evento de maior alcance, este artigo evidencia também uma postura inquietante.
Se o Festival não fosse Gay e Lésbico mereceria uma maior divulgação?Serão duas palavrinhas que fazem a diferença?Aquilo que gostaríamos é que se falasse da qualidade da programação – bons ou maus, são os filmes que compõem o Festival que merecem destaque e não apenas o seu título.Será que a mesma programação organizada sob uma outra designação mereceria maior destaque? Fica a dúvida.
Apesar das adversidades, o Festival conquistou este ano o reconhecimento do Superior Interesse Cultural, por parte de Sua Excelência o Ministro da Cultura,Dr. Pedro Roseta. Um reconhecimento que nos poderia ter aberto as portas para o apoio de privados, que assim usufruiriam de uma série de benefícios fiscais sobre o valor dos patrocínios atribuídos, mas que em termos práticos não teve a relevância que pretendíamos, não nos trazendo novos patrocinadores privados.
Tudo isto nos coloca numa situação difícil face ao futuro do evento.Se este ano o Festival se realizou graças ao esforço e boa vontade das pessoas directamente envolvidas, quero deixar desde já claro que nestes termos o Festival não tem condições de continuar.
Este ano, os muitos sacrifícios, provaram inequivocamente que não basta que tenhamos vontade, é preciso ter dinheiro e apoios. Não podemos continuar a sacrificar a qualidade do evento e a nossa sobrevivência.
Mas se é verdade que a continuidade do Festival está seriamente comprometida,não o é menos que pela nossa parte o Festival não morrerá na apatia. Continuaremos a lutar por ele, por todos os meios e até ao fim.
É essa a nossa promessa para todos os que desde sempre se têm empenhado na sua realização.E por este ter sido um ano difícil – talvez o mais difícil – é que gostaríamos de agradecer mais insistentemente a algumas pessoas cujo esforço nos deu o ânimo que faltava nos momentos de maior sofrimento, entre elas o nosso público, sempre presente, sempre crítico e exigente. É para ele que fazemos o Festival e é por ele que lutaremos pela sua continuidade.
Celso Júnior

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